Postagens

Amor índico

Fez um ano que o meu corpo encontrou com o seu pela primeira vez. Lembro do dia ensolarado, eu de cabelos lavados e o pensamento certo de que a minha história se juntaria a sua naquela tarde. O seu cheiro, a sua espera e o encontro com o seu olhar leve, seu sorriso e uma timidez que me encantavam. Eu pensava "me beija". Seguimos. Debaixo da árvore, nada fazia sentido se não fosse passar o restante do dia ao seu lado. Mais uma vez, fui ao seu encontro certa de que meu corpo queria se encontrar com o seu. Nos encontramos. Leve fiquei e senti sua mão encostar na minha nuca e o seu corpo envolvendo o meu. Te amei desde o primeiro instante. Te amo como se fosse o primeiro instante. O amor se renova na lembrança dos instantes desse encontro que me fez atravessar as pontes e as minhas marés internas para saber te a-mar. Eu sabia que você chegaria.

boa noite

É noite, o desejo me amanhece Desejo de anoitecer em sua pele Hoje, era uma bom dia para me anoiteSer em ti

Confissão

Eu não vi os vídeos, não ouvi os áudios sobre a violência que avassalou os terreiros, casas de axé, casa de santo, casa de candomblé, umbanda, na semana passada. Não tive coragem, eu confesso. Confesso que tais atos me fizeram refletir e lembrar de quando eu namorei um evangélico e do quanto eu aprendi sobre como não ser intolerante. Na época, eu estava iniciando minha caminhada na ayahuasca, frequentava esporadicamente, mas frequentava. E um dia ele demonstrou irritação por conta da minha escolha espiritual. Vira e mexe, ele dava um jeito de dizer que não entendia muito as escolhas espirituais da minha família: como numa casa podia ter a bíblia, livros sobre Orixá, imagem de Buda, livro cardecista, imagem de São Francisco, Kuan Yn... tudo no mesmo altar? Nós, as Oliveiras, éramos e somos assim. O namoro seguiu e um dia ele voltou a verbalizar o descontentamento dele por eu continuar frequentando os trabalhos com ayahuasca. Eu respirei e disse que quer

vin'Olhar

Pausa. Aceito a companhia de uma taça de vinho Te recebo numa visita imaginada O sabor antes de ser o torpor, me vasculha e te traz E o desejo desperta. O vinho convida o desejo para dançar, para ser Senti-lo Sou convidada a te sentir como um torpor que traz à consciência, a ciência dos sentidos Te sinto sem nem sabê-lo Não sei de suas texturas Não sei de sua temperatura Não sei do seu sabor Não sei de si De si, imagino sua textura em pelo...minha pele De si te crio e recrio em possibilidades de encontro Pode um corpo ter a certeza de um desejo, sem sabê-lo quando e como saciar? Tomo o último gole e te engulo. Sinto se'de ser com você.

fome

Vou te escreviver em desejo, enquanto espero sentir o gosto do seu beijo: Me vejo, aqueço sempre que te penso imaginando sua voz-pelo em minha pele tateando meu corpo como quem caminha na escuridão Te crio num encontro noturno que na madrugada me adentra nesse deleitar de corpos deitados que se entrelaçam Agora te vejo, diante de mim, meus olhos te despem  minhas mãos me-te sentem minha boca aquece, ainda busco imaginar o seu gosto minhas mãos caminham e abrem os caminhos entreabro-me para sentir es'seu desejo meu tateio e entre os dedos te crio coração dispara ofegante dese'jante-me te desejar, me dá fome

Melodia

hoje eu acordei... quantas vezes a melodia não embalou os meus sábados: eu pequenina, ouvindo aquela voz de trombone, o violão bem tocado e a voz dos que me geraram cantando, o cotidiano de uma casa simples sendo desenhando por suaves e negras melodias. Foi assim por muitos anos... 32 anos depois, sigo esse rito afetivo: melodia na companhia cotidiana... hoje eu acordei... bem pra lá do que pra cá quantas vezes a conquista da independência me levou a assistir e ouvir de perto a voz-blues... eu ja não mais pequenina, cantando em coro, chorando e seguindo sua melodia como se ela pudesse me guiar até uma memória familiar... hoje eu acordei... pérola negra meus olhos desaguam e pensam no sonho não realizado. Nos conhecemos sem nos saber. não questiono o tempo, os caminhos e as viagens que a nossa alma faz... eu que fico, sigo e seguirei me guiando por sua suave e voraz melodia me emperolando nesse mar que canta aos meus ouvidos hoje eu acordei... em negra melodia

sintOlhar

pauso os escritos para pensá-lo meus pensamentos buscam a sua voz, a sua pele a sua presença ora o corpo traz, ora a mente traz silencio para ser esse pensamento-teu que me atravessa e me transversa, numa fronteira entre a espera e a imaginação do ser e o não ser nesse balanço do não saber o que é: penso, logo te sinto